Num dia 31 de
dezembro, um pescador, depois de uma pesca satisfatória e uma farrinha com
os colegas, querendo passar o fim de ano com a família, cruza a baía da Ilha
Grande em sua modesta canoa e, já anoitecendo, desencadeia tremendo temporal.
Sente-se desamparado, está só, em plena baía, longe de terra, sem ter
onde se abrigar. Porém, pela luz dos relâmpagos divisa uma pequena ilha. Estranha,
não se recorda de ilha naquele lugar... mas sente-se feliz, tem onde se abrigar.
Estará a salvo. Ruma sua embarcação para ela. Estará a salvo. Embica sua canoa
entre as árvores, improvisa uma coberta, cansado, pensa não dormir, mas deita-se
pensando no aconchego do lar, na mulher e nos filhos, adormece. Num instante
viu-se num salão todo iluminado. Deslumbrado começou a ouvir música, de início,
suave, depois foi aumentando e o salão encher-se de graciosas mulheres em
trajes diáfanos, que bailavam e o envolviam docemente. Até que um grande trovão
tudo sacudiu. Segurou a dama que estava junto a si, porém ela afastou-se deixando
em sua mão um pedaço de sua veste. Acordou, o sol batia-lhe o rosto, olhou
ao redor procurando reconhecer a ilha, nada viu. Estava em sua canoa em plena
baía, a balançar levemente. Lembrou-se então. Era o ano bissexto. Aquela,
a ilha desse ano.